Vida seca

Singrei-te campos da querência,
que não lhes embebiam por usura
Varri-te as ilhas da consciência,
delas não sacadas as almas puras

Uma vida seca, tudo por vivência,
tudo nada além de toda provação,
que a esturricada terra a demência
fez de acontecer-me por privação

E, vida seca, transitando pela dor,
vinhas da ira a lambiscarem língua,
tantos vi, vida seca, no afã do indolor,
atestados, neles ruboriza uma íngua

E veio, vida seca, todo o desmando,
pelos analfabetos, à mercê de letrados,
céu a margeá-los, ficarem sem mando
do demônio aceitando grácil estrado

Enderecemos, vida seca, uma oração
às almas perdidas ignorantes a Deus,
que Deus teriam elas por sua salvação
se ataviados, vida seca, os rumos teus

Se na lida dura aprisionas meu filho,
vida seca, ofendo-te se és amargura?
Ah, ao caminheiro não obras o trilho,
para depois eleger-lhe a tua sepultura?

Fernando Catelan
Mogi das Cruzes - SP
(Antologia virArte Aldeia, 2007 )
Site : Fernando Catelan

No comments: