Meus Sonhos

Há uma mulher
Que vagueia,
Como um fantasma,
Toda de branco,
Pelos porões de minh´alma.
Há uma mulher
Em formas de
Plumas algodoadas,
Que não pousa em meu leito.
Há uma mulher
Com um olhar triste,
Que povoa meus sonhos.
Há uma mulher
Que se põe distante,
Sob a luz âmbar,
Solitária no bar.
Esta mulher,
Como um fantasma,
Vai lentamente,
Com sua melancolia
Tragando a si mesmo.
O eu poeta,
Irresponsavelmente,
Vai contemplando-a e,
Indelicadamente
Descrevendo-a em versos.

Luiz Carlos Nascimento Da Rosa
Pirapó - RS
( Antologia virArte Limiar, 2006 )
Quando sopram os trigais
Edinara Leão
Borck /virArte 2006 - Série Escrevinhador vol. I





Edinara Leão escreveu Minhas Faces (1991) e (a)MOSTRAgem (2001). Tem participação em 70 coletâneas literárias. Foi escolhida a Escritora do ano em 2001, 2003 e 2004. É sócia honorária da CAPORI, recebeu em 2003 a Medalha Nelson Fachinelli de incentivo à cultura. Presidiu a Casa do Poeta de São Luiz Gonzaga em 2002 e 2003. É idealizadora e fundadora do Movimento virArte, que coordena desde 21/10/2003. Edinara vem se destacando como um dos novos nomes da literatura contemporânea.
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(Mais) Sobre a autora
A verdadeira poesia mexe com o espírito e as paixões do leitor ou, como diz Edinara Leão, "a poesia venta e molha". Está aí uma imagem que não deixa dúvidas: estamos diante de uma poeta.
Para os leitores de poesia que estão fartos do lirismo experimental, conceitual, impessoal, que grassa por esses pagos, é um alento ler os versos de Quando sopram os trigais, nos quais se reconhece, de pronto, a viva voz de uma pessoa, ou melhor , de uma mulher, a se revelar inteira, ainda que escondida ou disfarçada atrás da persona do sujeito lírico.
E o que essa mulher tem a nos dizer? Ora, ela simplesmente põe a nu todas as nossas angústias, incertezas, fracassos, e tudo o mais que as palavras não cobrem - sejamos homens ou mulheres. Por isso mesmo, não recomendo a leitura desse livro a menores de idade ou de inteligência.
Paulo Becker
Escritor

Transcendental

Sou assim puro
azul-anil
céu de mim

Em mim vem
nuvens assim
cinzas de ti
azul de mim

Não minto cores
dores não sinto
amores, em mim
reluz o
fim.

Marisa Cardoso
Florianópolis - SC
( Agenda virArte, 2007 )

Efígie II

Liberto-me
no que a noite tem
de claro

Liberto-me
no que a lavra tem
de eterno

Liberto-me
no que o sono tem
de sonho

Liberto-me
no que o mistério tem
de insano.

Larí Franceschetto
Veranópolis - RS
( Agenda virArte, 2007 )

Momento II

A escada. A porta.
Ninguém baterá.
Pouca palavra.
Os olhos sangram ausências.
As mãos entabulam o querer.
Caminhos aflitos do corpo.
Livros na mesa. Rendição.
Fuga do tempo.

Ele quis demais.
Ela quis demais.

( mas havia o mundo
lá fora )

Edinara Leão
Santa Maria - RS
( Agenda virArte, 2007 )
Edinara é coordenadora geral do virArte.
Blog : Edinara Leão

Once again

Na meia-noite adiantada
Reinventada a cada ano
Quase sempre a mesma cena
Velhos gatos moleques
Observam dos telhados
O ano que um dia foi verde
Azul vermelho dourado,
Mesclando sometimes de cinza,
Parar definitivo no número 365
Recolher estrelas caídas no chão
E redistribuir uma a uma
Novas senhas pintadas de branco
Dentro da noite de festa
Que o amanhã chega e finda

Maria Regina Caetano Soares
Santa Maria - RS
( Agenda virArte, 2007 )

Amanheceres

Com personalidade
sem servilismo,
desponta
mais um dia.

Que teimamos
em batizar,
numerar
enquadar.
Por quê
não
vive-lo,
apenas?...

João Weber Griebeler
Roque Gonzales - RS
( Agenda virArte, 2007 )
blog : urutau

Preocupação

Drummond morreu,
Borges se foi.
Neruda é morto
e eu não me
sinto
lá muito bem.

Mas todos passaram
dos oitenta
e tiveram
muita saudade
da infância.

Mário Simon
Santo Ângelo - RS
( Agenda virArte, 2007 )

Tiro Cego

Olhos
De olhares
Olhados
Olharam
O homem
Parar
E disparar
Para o ar

A bala
Perdida
Perfurou a escuridão
Matando a claridade.

Cosme Custódio
Salvador - BA
( Agenda virArte, 2007 )